A BIA chegou! Após testes que iniciaram no ano passado com seus clientes Prime, a inteligência artificial do Bradesco está sendo amplamente divulgada com um produto matador e isso é muito mais transformador do que parece. É o momento em que a inteligência artificial deixa de ser um assunto de eventos de tecnologia e episódios de Black Mirror e passou a ser argumento de vendas de um produto.
Nós utilizamos a inteligência artificial de diversas formas e para diversos fins há algum tempo. Em quase todos os produtos do Google existe alguma aplicação de inteligência artificial, como seu tradutor de textos. Algoritmos de recomendação, como os da Netflix, Spotify e Facebook, já são cotidianos e já chegam a fomentar discussões sobre as bolhas da internet. O Amazon Go fez bastante barulho como o primeiro mercado 100% autônomo do mundo utilizando de reconhecimento facial e RFID. Até mesmo a Siri, Cortana e Alexa são alardeadas como as assistentes virtuais que darão conta de quase tudo.
O que todas as tecnologias do parágrafo anterior tem de diferente da BIA é que todas elas, além de serem protagonizadas por empresas estrangeiras, utilizam outros jargões para fazer com que a adoção tenha menos atrito. Nenhuma delas é “A Inteligência Artificial da … (preencha aqui com sua empresa preferida)”. Em toda a jornada que envolve essas tecnologias e o hype gerado em torno de inteligência artificial, chegamos ao momento que um banco decide lançar um produto para varejo, com consumidores de todas as classes, e alguém da publicidade decide que inteligência artificial é um termo comercial e impactante o suficiente para atrair e não amedrontar os seus clientes.
Desde o briefing até a redação final e veiculação, o Bradesco e sua agência de publicidade entenderam que a Inteligência Artificial seria o que venderia seu produto. E Inteligência Artificial com letras maiúsculas, o que lhe confere um caráter mais pessoal e único para sua solução, não “apenas” a inteligência artificial que é um conjunto de técnicas de programação e estatística. O que mais deixa evidente essa decisão é que a BIA poderia facilmente ser a assistente virtual do Bradesco ou o aplicativo do Bradesco que realiza reconhecimento de voz, mas não foi esse caminho que foi seguido.
Este pode ser um experimento social muito interessante em que o limite de nossa relação com a tecnologia pode ser novamente redefinido. Algo parecido já ocorreu com o GuiaBolso em que a confiança está sendo criada a duras penas. Se a barreira de dar os acessos foi grande para ter um controle financeiro eficiente, a simbiose irrestrita entre uma inteligência artificial e um gerenciador de conta bancária pode gerar resultados que vão da euforia até a frustração.
Muito além do seu nome BIA, que é muito empático por sinal, essa decisão reflete o Zeitgeist (para deixar em termos publicitários) que estamos vivendo. Pessoas estarão dispostas e interessadas em deixar com que uma inteligência artificial gerencie a sua conta bancária. Mesmo a afirmação anterior esteja longe de ser o que a BIA se propõe a fazer, essa pode ser a percepção geral do público em relação a sua utilização. E tudo bem. Porque, ao que parece, inteligências artificiais não são tão más assim e até mesmo podem gerenciar nossas contas bancárias.